terça-feira, 24 de maio de 2011

Lutas: Greco-Romana ou Luta Olímpica


           A REVOLUÇÃO SILENCIOSA

          Embora silenciosa, está acontecendo uma verdadeira revolução nessa modalidade em nosso país. E não será surpresa se tivermos pódio olímpico em um ou dois ciclos.
          Os nossos representantes têm feito bonito no cenário internacional, obtendo mais resultados nos últimos dois anos no Campeonato Pan-americano da modalidade do que nos trinta anos anteriores. Em agosto       
de 2006, obtivemos a histórica primeira medalha brasileira em campeonatos mundiais com a atleta Aline Ferreira, que sagrou-se vice-campeã mundial Júnior na cidade da Guatemala, pondo-se à frente de países tradicionalíssimos na modalidade, como Rússia e Estados Unidos.
          Realizamos no mês de maio de 2006 testes até então inéditos no Brasil dentro dessa modalidade, com a Universidade Católica de Brasília. No entanto, até o presente momento, a Universidade não disponibilizou os resultados que poderão iniciar, de fato, a cientificidade do treinamento de alto rendimento nessa modalidade em nosso país.
          Considerando o potencial de retorno de medalhas, não há comparação com nenhuma das modalidades coletivas. Essas renderão, se tiverem êxito no torneio, somente uma única medalha, ou seja, todo o investimento em uma equipe de handebol, futebol, vôlei ou basquete, por exemplo, será para se obter como produto final uma única medalha ao país. É um investimento altíssimo para um retorno apenas modesto. Países que tem um grande desempenho nos jogos apóiam, sobretudo, modalidades individuais: lutas, atletismo, natação, ginástica, dentre outros. Indubitavelmente, as modalidades individuais têm um potencial de retorno muito maior, proporcionalmente ao investimento muito menor, se considerada a estrutura necessária para a conquista de cada medalha ao país.
          Os Jogos Pan-americanos, evento que por si mesmo trará um grande retorno de todas as mídias televisivas e impressas, com um vulto quase incalculável de retorno em publicidade aos patrocinadores, ainda não despertou o total interesse do empresariado, que desconhece os estudos apontando a modalidade de Luta Olímpica como sendo um dos mais promissores investimentos para o Rio 2007.
          Em 2001, o Comitê Olímpico Brasileiro descredenciou a antiga Confederação Brasileira de Luta Olímpica e foi fundada, pelo professor Pedro Gama Filho e pelo Professor Gilberto Arbués, a Confederação Brasileira de Lutas Associadas, hoje com quatorze federações estaduais constituídas e com um crescente número de filiados.
          Criou-se a Federação Universitária de Luta Olímpica, com um excelente trabalho de Miltom Bastos. No Estado de São Paulo, a modalidade foi esporte de demonstração nos Jogos Abertos do Interior, no ano de 2004, e em 2005 tornou-se modalidade oficial desse que é o principal evento esportivo do interior do estado mais rico da Federação. De fato, isso representa um grande feito, já que, se o pleito de inclusão houvesse sido rejeitado, seriam necessários, pelo menos, mais dez anos de espera para se realizar um novo requerimento de inclusão.
          Inclusão, aliás, é o que faz dessa modalidade algo tão peculiar no universo das atividades motoras conhecidas. A maturação técnica de um atleta pode ser chamada realmente de temporã, pois a vivência motora necessária para a realização de gestos técnicos mais apurados resume-se a cerca de um quinto do tempo necessário na modalidade de judô, por exemplo. Isso se deve, em parte, à ausência de quimonos, que não só barateia os custos de adesão, pois o uniforme de treino é o mesmo que a criança joga futebol (um calção e uma camiseta), como suprime severas fases compulsórias da vivência de pegadas, por exemplo.
          As diversas categorias de peso admitem todos os biotipos: desde o garoto mais gordinho até o magricela aparentemente desengonçado.
          Estudo realizado pelo Centro de Traumatologia do Esporte (CETE), da Universidade Federal de São Paulo, em 2002, e divulgado pela rede CENESP no Congresso Internacional de São Paulo, em 2003, mostra que o número de lesões dos praticantes de lutas é muitíssimo menor do que no basquete, por exemplo, que tem 67,8 lesões por cada mil praticantes contra apenas 6,5 das lutas.
          PROJEÇÃO NACIONAL
          Os números da modalidade são, no mínimo, impressionantes.
          Há pouco mais de seis anos, o conhecimento que tínhamos da modalidade Olímpica chamada de greco-romana era algo menos que laico (para usar de eufemismo mesmo).
          No dia 14 de março de 2005, o Jornal O Estado de São Paulo dedicou uma página inteira sobre a Luta Olímpica.
          A Bombril apóia, até os Jogos de 2007, duas atletas da Luta no projeto “Mulheres que fazem o Brasil Brilhar”.
          A Band Sport dedicou cerca de 300 minutos de sua programação em apenas seis meses em cobertura de eventos da luta.
          A maior emissora de TV do país, a rede Globo (TV Vanguarda) pretende dedicar cerca de seis horas de sua programação à modalidade de Luta Olímpica no próximo dia 25 de novembro visando a divulgação dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro em 2007.
          Não é debalde que essas empresas já atentaram para o potencial incrível da modalidade de Luta Olímpica. Sabemos que para isso é fundamental toda uma mudança na visão estreita que temos de nossos saberes. A nossa visão é curta por conta de nossos olhos que tendem a circunscrever para si mesmos um horizonte restrito daquilo que, em seu padrão, acredita ser a fronteira final.
          Em se tratando de política nacional de apoio e difusão ao esporte, o termo “Luta Olímpica” é muito mais que um homônimo ou uma paráfrase, trata-se de uma luta que vai muito além do eterno combate entre atividade física versus atividade intelectual, atividade lúdica versus atividade competitiva, apoio à cultura versus apoio ao esporte (diga-se de passagem que a lei Rouanet destina até 4% de renúncia fiscal ao imposto contra apenas 1% para projetos que apóiem a criança e o adolescente, fazendo com que a política de apoio ao esporte valha nada mais do que um quarto do que vale a cultura).
          Há ainda o problema de políticas do governo que revelam-se declaradamente discriminatórias. A Petrobrás, por exemplo, divulga em seu site que em sua política de apoio às modalidades esportivas excluem-se as lutas e artes marciais, mostrando um total desconhecimento da natureza pacífica e conciliadora dessas modalidades que nada tem a ver com arte de guerra (marcial, de “Marte” o deus romano da Guerra), mas trata-se de uma expressão cultural presente na cultura de todos os povos. Lembrando que os Gregos, criadores da Luta, são os mesmos gregos criadores da “Ética”, da “cidadania” dentre inúmeras contribuições conceituais e estruturais que vêm desde os radicais gregos em nossa riquíssima língua portuguesa, até conceitos mais do que assimilados por nossa cultura.

Joanílson Rodrigues

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