O sedentarismo, que pode desencadear muitos problemas de
saúde, já é considerado uma epidemia. Só para se ter ideia, levantamento do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que apenas 10,2%
da população acima de 14 anos praticam alguma atividade física no país. A boa
notícia é que a psicologia pode ajudar os "paradões" a mexer o corpo
- um alento para quem sente a consciência pesar ao ouvir sobre o Dia Mundial da
Atividade Física, celebrado neste sábado (6).
"Mudar este quadro está na lista de muitas pessoas que
pouco se movimentam, mas nem todas têm sucesso. O motivo é que elas não
estabeleceram uma relação prazerosa com a ginástica ou o esporte, o que torna o
início desconfortável. Assim, há enorme dificuldade para sair da zona de conforto,
deixando a impressão de que é quase impossível chegar lá", analisa Carla
Di Pierro, psicóloga especialista em Psicologia do Esporte e Clínica Analítico
Comportamental.
Uma abordagem que pode alterar essa situação é tratar o
sedentarismo como uma espécie de doença, que precisa de tratamento, como
qualquer outra.
"A psicoterapia auxilia na medida em que faz a pessoa
compreender o quanto é essencial alterar o estilo de vida, criando hábitos que
promovam saúde, como o exercício", salienta Cristiane Moraes Pertusi,
doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela USP (Universidade de São
Paulo).
Para Carla Di Pierro, há dois caminhos que fazem alguém ser
sedentário: ou o indivíduo não teve, em sua história, uma relação construtiva e
proveitosa com a atividade física; ou mexeu o corpo na infância e adolescência,
mas, atualmente, isso não está na sua lista de prioridades.
Quem é ativo, acredita a terapeuta, tem uma trajetória
positiva nesse campo e, por isso, faz ginástica ou esporte porque gosta, e não
por obrigação. "Há pessoas que até podem ter iniciado por pressão externa,
porém se continuam firmes e fortes é porque criaram uma correlação diferente
com o exercício."
Prazer é fundamental
Tal vínculo saudável envolve fazer algo de que se goste,
perceber a evolução e os resultados e associar o exercício a consequências
positivas como conhecer pessoas e conquistar novos amigos.
"Ter uma meta e objetivos claros também ajuda bastante,
pois aumenta a perseverança e a garra para alcançar algo mais adiante",
diz Carla Di Pierro, que desenvolveu um programa de adesão à pratica de
atividade física. "Há ferramentas que ajudam o paciente a mudar seus
padrões de comportamento, abrindo a possibilidade de ver, sentir e fazer
diferente, saindo do familiar, do óbvio, e entrando em contato com o
novo."
A malhação, acredita Cristiane Pertusi, deve ser estimulada
e realizada desde a infância. "Nosso cérebro precisa se acostumar com a
ginástica ou o esporte, obrigando o organismo a gastar certa quantidade de
energia regularmente. Isso deve ser mantido para que, com o passar da idade,
seja natural praticar uma modalidade. Em outras palavras, o corpo humano não
pode se familiarizar e se acomodar ao estilo sedentário."
Disposição para tudo
Conversando com um psicólogo, o indivíduo encontrará
gatilhos para mudar seu cotidiano. "O exercício, de forma geral, está
presente na vida de quem tem energia para investir em áreas distintas do
mundo", considera Pertusi. Com consciência de todos os benefícios que
oferece – e dos malefícios e riscos da inatividade para a saúde –, é possível
adquirir força de vontade para se cuidar e buscar um corpo harmonioso e
saudável.
"Às vezes, a pessoa se torna sedentária porque o ritmo
de vida é tão intenso que ela acaba sucumbindo ao cansaço, ao desânimo, à
apatia", completa Elcio Carvalho Neto, professor de musculação da Academia
Competition, em São Paulo.
Como consequência, ele adverte, não raro aparecem problemas
como obesidade, estresse, depressão, disfunções cardiorrespiratórias e outras
associadas à inatividade. "Quem não se entrega ao ócio, se previne de
vários destes distúrbios. E, como apresenta massa musculoesquelética evoluída,
adquire uma proteção articular significativa. Por isso, cabe a nós,
profissionais da saúde, desenvolvermos estratégias que levem os sedentários a
mudar seus hábitos, almejando qualidade de vida e assimilando que, antes de
cuidar de outras áreas – como estudo e trabalho –, é essencial olhar para si
mesmo. Dessa forma, eles evitarão muitos problemas físicos, pessoais e
psíquicos", ressalta Elcio Neto, que é pós-graduado em Treinamento
Desportivo.