No cotidiano de nutricionistas, treinadores, atletas
experientes e de qualquer pessoa envolvida com treinamento com pesos, algumas
perguntas são muito frequentes:
Qual suplemento eu tomo para crescer? O que eu devo comer
antes do treino? Quais alimentos são bons para mim?
Sem dúvida, os profissionais são capazes de imediatamente
sanar algumas dúvidas mais básicas, tais como: inclua alimentos fonte de
proteína em sua dieta; cuidado com carboidratos simples e gorduras saturadas;
mantenha uma ótima hidratação; aumente sua ingestão de fibras, vitaminas e sais
minerais ingerindo mais frutas, legumes e verduras; tome um suplemento de
proteína associado com carboidrato imediatamente após o treino, etc.
No entanto, sabe-se que para um indivíduo obter um resultado
realmente satisfatório em seu programa de treinamento, é necessário mais do que
apenas essas dicas, mas sim um programa nutricional totalmente individualizado,
elaborado por um nutricionista esportivo competente.
Por onde começar?
Nenhum programa nutricional poderá ser elaborado, sem a
estimativa do valor calórico total da dieta. Normalmente, se observa que muitos
profissionais utilizam apenas as fórmulas fornecidas porsoftwares, livros e
outras fontes. Este método pode servir até como um ponto de partida, porém,
acaba ignorando uma de nossas maiores características: individualidade
biológica! Ou você acredita que duas pessoas com a mesma idade, sexo, atividade
física e atividades gerais apresentam exatamente o mesmo gasto energético?
Que bom seria, pois nosso trabalho seria muito menos árduo.
Mas na prática é bem diferente.
A melhor maneira de se estimar o gasto energético real de um
indivíduo (além de ter as fórmulas como base) é considerando a ingestão
calórica habitual média. Isto pode ser obtido por meio de entrevista com um
profissional experiente, ou ainda com a comparação de um registro alimentar
(método no qual o indivíduo descreve tudo o que ingeriu naquele período
determinado) com as eventuais mudanças antropométricas ocorridas no mesmo
período. Recomenda-se que o ideal seja obter uma média da ingestão de no mínimo
uma semana.
Após estabelecer o gasto energético diário, devemos
adicionar calorias, pois nosso objetivo é aumentar a massa muscular. Neste
momento, não deve haver erros, sendo que um aumento exagerado irá proporcionar
acréscimo no tecido adiposo, assim como um aumento insuficiente não
proporcionará o desejado ganho de massa muscular. Temos obtido sucesso quando
trabalhos com um aumento em torno de 20% na ingestão calórica. Por exemplo, se
o gasto energético diário é de 3000 kcal, a ingestão alimentar deveria ser de
3600 kcal para se obter ganho de massa magra.
O segundo passo seria dividir este valor calórico entre
cinco e sete refeições diárias, visando manter um melhor aproveitamento dos
nutrientes ingeridos. Sabe-se que os horários equivalentes ao desjejum,
alimentação pré e pós-treino, devem apresentar uma maior ingestão calórica do
que os demais horários. Tal como no exemplo logo abaixo:
Refeição #1 20%
Refeição #2 10%
Refeição #3 10%
Refeição #4 20% (pré-treino)
Refeição #5 20% (pós-treino)
Refeição #6 10%
Refeição #7 10%
O exemplo acima varia de acordo com características
individuais, tais como: horário de treino, rotina de atividades diárias, etc.
Muitas pessoas ainda acreditam que apenas a alimentação no período pós-treino é
a chave para o sucesso! No entanto, de nada adiantaria uma ótima refeição
pós-treino se as demais refeições não seguirem o mesmo padrão de qualidade.
Agora que já temos o valor calórico e seu respectivo
fracionamento, podemos organizar os nutrientes.
E adivinhem por onde começamos? Isso mesmo, proteínas!
Não que apenas a ingestão adequada de proteínas será o
suficiente, mas este nutriente é essencial para nosso sucesso. A questão é a
dificuldade em se obter proteínas de fontes alimentares convencionais, visto
que os melhores alimentos fonte (carnes magras, ovos, etc) necessitam de um
preparo não muito prático para a maioria das pessoas que possuem outras
atividades além da academia, sejam elas acadêmicas ou profissionais. Neste
momento, os suplementos protéicos são de grande valia, mas isto é assunto para
outro artigo.
Normalmente, quando se almeja hipertrofia muscular,
trabalha-se com uma ingestão protéica na ordem de 2 gramas/kg/dia, valor este
corroborado por inúmeros estudos. No entanto, muitas vezes trabalhamos com
valores um pouco maiores, tais como 3 gramas/kg/dia ou até mesmo 4
gramas/kg/dia.
Mas não seria desperdício?
Não. Ocorre que a ingestão protéica neste caso não está
somente relacionada com a síntese protéica, mas também com um processo de
auxílio na queima de gordura corporal, visto que a metabolização da proteína
exige um maior custo energético para o organismo, além de auxiliar no controle
da liberação do hormônio insulina quando presente em todas as refeições do dia.
Isto funciona muito bem para aqueles indivíduos com dificuldade em perder
gordura corporal, com um metabolismo lento, os quais se beneficiam mais com uma
dieta controlada em carboidratos e mais rica em proteínas. Já para pessoas com
metabolismo rápido, procuramos manter a ingestão de carboidratos mais elevada
associada com uma ingestão protéica em torno de 2 gramas/kg/dia. Com isto,
novamente vemos que a dieta deve ser sempre individualizada. Não existe receita
de bolo!
O segundo passo seria estipular a ingestão de lipídios.
Lembrando que ela é fundamental para o processo de hipertrofia, visto a
importância desse nutriente na produção do hormônio anabólico testosterona.
Consideramos suficiente uma ingestão em torno de 20% das calorias totais, mas
dependendo do indivíduo e da fase de preparação, podemos trabalhar com até 30%
das calorias totais provenientes de lipídios.
Para estipularmos a ingestão de carboidratos, é fácil.
Apenas somamos o valor calórico que deve ser ingerido de lipídios com o valor
calórico que deve ser ingerido de proteínas e subtraímos do valor calórico
total. Para esse cálculo, devemos ter em mente que 1 grama de carboidrato
equivale aproximadamente a 4 calorias; 1 grama de proteína equivale
aproximadamente a 4 calorias e 1 grama de lipídios equivale aproximadamente a 9
calorias.
E quais alimentos eu devo escolher?
Devemos escolher alimentos protéicos de alto valor
biológico, tais como: frango, peru, peixe, carne vermelha magra, claras de
ovos, queijo cottage, mix protéicos, whey protein, só para citar alguns
exemplos.
Quanto aos lipídios, devemos impor um limite de até 1/3
destes ser proveniente de gorduras saturadas, sendo que o restante deve provir
de gorduras mono e poliinsaturadas. Bons exemplos seriam: azeite de oliva extra
virgem, oleaginosas, abacate, óleo de canola, triglicerídeos de cadeia média,
óleo de boragem, ômega 3, etc.
Os carboidratos podem ser divididos ao longo do dia da
seguinte maneira:
20% no café da manhã
20% na refeição pré-treino
20% na refeição pós-treino
40% restantes divididos igualmente nas demais refeições
Devemos preferencialmente escolher alimentos fonte de
carboidrato de baixo índice glicêmico. Este índice reflete o impacto que a
ingestão de carboidratos proporciona na glicemia e está relacionado
diretamente, portanto com o controle do hormônio insulina. Ótimas fontes
seriam: batata doce, mandioca, cará, inhame, arroz integral, pães integrais,
aveia e macarrão integral. A escolha de alimentos integrais também nos auxilia
quanto à ingestão de fibras, vitaminas e sais minerais. Nos momentos
relacionados ao treinamento (logo antes e imediatamente após), podemos utilizar
carboidratos com um índice glicêmico mais elevado, tais como maltodextrina e
dextrose.
E onde entram os demais suplementos?
Primeiramente, como demonstramos, a suplementação é útil
para tornar possível a ingestão dos nutrientes necessários, pois em alguns
momentos do dia, pode ser interessante a introdução de algum suplemento
protéico para garantir a obtenção de toda proteína necessária. Ou ainda, nos
horários pré e pós-treino, uma suplementação acaba sendo muito mais viável do
que a ingestão de alimentos sólidos, devido a maior velocidade de absorção e
praticidade.
E temos ainda suplementos com capacidade ergogênica, ou
seja, que podem melhorar a performance no treinamento alem de auxiliar no
processo recuperativo. Como exemplo temos os bcaas, glutamina, creatina,
arginina alpha-keto-glutarato, hmb, leucina, etc. no entanto, a introdução
desses suplementos na dieta deve obedecer uma demanda para serem necessários,
tal como um treinamento intenso.
Novamente ressaltamos a importância do acompanhamento
profissional. Este artigo não tem o objetivo de fornecer informações para que
qualquer indivíduo elabore sua própria dieta, mas sim demonstrar a complexidade
do trabalho, reforçando a necessidade da consulta com um profissional
devidamente capacitado. Procure sempre um nutricionista!
Originalmente publicado no site www.rodolfoperes.com.br